domingo, 27 de março de 2011

A TARDE, COMO SOBREMESA

 «O escritor é a mais solitária das pessoas. Eu pensava nisso à saída do supermercado, quando avistei uma mulher belíssima. Estava postada exactamente na entrada dos caixas, vestida de preto, o cabelo preso por uma fita, olhando calmamente para um ponto indefinido, como se nada estivesse acontecendo – apesar de lá fora, na rua, estarem passando carros, crianças, policiais e até os bombeiros com a sirene ligada. Nem isso chamou sua a tenção ou pareceu perturbá-la. Uma mulher com ar de quem é a absolutamente íntima de incêndios.
E eu pensando na solidão dos escritores. E, por que não na dos cientistas, músicos e pintores. (…) Enfim, o homem é uma criatura solitária. Muito embora viva se amparando nas mais diversas coisas. Até mesmo numa página em branco.
 A mulher continuava parada no mesmo lugar. Imperturbável. Pensei em me dirigir a ela, mesmo sem saber exactamente o que dizer. (…) Mas não fiz nada disso. Provavelmente temendo me sentir como um canguru ante a beleza, como disse um poeta. Então eu apenas pedi licença e saía para a tarde, carregando, além da saca do supermercado, a certeza de que nunca mais tornaria a vê-la».
(…)
Excerto de «Onze jantares», um conto de Marçal Aquino  (2003). Famílias terrivelmente felizes (19-32).

O Autor:
Marçal Aquino nasceu em Amparo, interior de S. Paulo, em 1958. Jornalista, escritor e roteirista, com treze livros publicados, dos quais quatro são de contos, actualmente é o que se pode chamar de um escritor da nova Literatura Brasileira, associado pelos críticos à corrente Pós-modernista. Conotado com a literatura policial, afirma que a matriz da sua literatura é a rua.
Dotado de um discurso fluente e claro, transporta a realidade para a ficção com uma singular maestria de linguagem enxuta, que de tão verosimilmente nua e crua, causa arrepios.  
Enredos sinuosos, quais trilhos da vida. Marçal Aquino bebeu nas origens humildes a seiva do autêntico sentido da existência. Conquistada passo a passo, sem falsa modéstia, nem rancores, nem  moralismos estereotipados de quem nasceu ouvindo Beethoven. Estes, porém, nunca pisaram a terra que fez crescer a planta que dá o pão que os alimenta. Prova evidente de que  é o homem que traça o seu próprio futuro. 
Nos seus contos temas como o amor, o sexo, a violência, o crime, o ódio, a traição, o suicídio, a morte, assumem matizes inesperados. Finais invariavelmente infelizes ou vazios. 
 O fim é fatalmente infeliz.
Boas Leituras
Lurdes Meneses

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As palavras...

São como cristal,
as palavras.

Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta?
Quem as recolhe,
assim,cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade

"Uma hora de histórias" na Biblioteca Escolar

"Uma hora de histórias" na Biblioteca Escolar
contadas pela Liliana, no dia das Bibliotecas Escolares

Toda a ansiedade começou quando a professora de Educação Física nos disse:
- Na próxima aula não tragam o material, porque vão ouvir histórias para a biblioteca!
Esperámos até à aula seguinte com muita curiosidade… Como seria?... Quem nos contaria as histórias?... Tanto mistério!
Finalmente chegou o dia! A angústia acabou.
Abriram-nos a porta e entrámos na biblioteca. Levaram-nos ao encontro de uma senhora, com ar simpático, que nos recebeu com muitos sorrisos de satisfação.
Sentámo-nos numas mantinhas e, finalmente, ia haver respostas para todas as perguntas que surgiram sobre o momento.
A senhora apresentou-se dizendo que se chamava Liliana. Vinha da Marinha Grande para fazer renascer a criança que há em nós, e assim foi.
Começámos com um jogo de concentração. Apenas saber observar, era o que tínhamos de fazer. Muito engraçado!
Depois informou que ia contar duas histórias, uma com livro, outra sem.
“Três Histórias do Futuro” começou por nos contar. Uma história engraçada que nos leva a perceber que nada substitui o amor de um pai.
Seguidamente, jogámos outro jogo sobre títulos e autores, estrangeiros e portugueses.
No final do jogo, um bom elogio inundou os nossos ouvidos. Disse-nos que realmente demonstrámos que gostamos de ler.
Contou-nos outra história, “O Pinto Careca”. Muito engraçada, realmente!
Foi um óptimo momento.
As histórias infantis não perdem a sua graça.

Escola Secundária de S. Pedro do Sul, 26 de Outubro de 2009

Isabela Queimadela, Margarida Martins, Júlio Girão, Rita Esteves (Área de Projecto – 7º A)